quarta-feira, 20 de maio de 2015

"As coisas não são bem assim - sobre a vida e o amor" - capítulo quatro, parte I

Boa tarde!

Ontem fiz um desafio no facebook para que vocês me sugiram temas para que eu escreva aqui! Vamos lá! Eu quero interatividade! Digam-me o que querem que eu escreva para vocês! Deixem seus recadinhos aqui ou no face, que irei ler com carinho e preparar textos bem especiais!

Enquanto isso, acabei de postar no wattpad a parte I do capítulo quatro do meu romance "As coisas não são bem assim - sobre a vida e o amor", não percam!

http://www.wattpad.com/story/38741842-as-coisas-n%C3%A3o-s%C3%A3o-bem-assim-sobre-a-vida-e-o-amor


Um trechinho:

Capítulo quatro

            O domingo amanheceu de céu azul e sol forte. Levantei com um pouco de preguiça e abri as cortinas. Já eram 10:00h. Calcei meus tênis de corrida, tomei um copo de suco de laranja e fui correr no parque do Sabiá, que é um parque municipal de entrada gratuita, com pista de caminhada ou corrida, arborizado, e com um pequeno lago. Eu gosto daqui. Quando corro sozinha, mesmo que o parque esteja cheio, sou só eu e meus pensamentos. Gostava de vir aqui com Guilherme...
            Desde o falecimento dele eu sempre visitava seus pais nos finais de semana, mas tudo naquela casa me lembrava-o. Com o tempo passei a ir lá cada vez menos. Já faz muitas semanas que não os vejo. Por um lado acho que eles gostavam da minha companhia, de falarmos sobre o Guilherme, mas ao mesmo tempo olharem para mim era como perceberem que ele se foi e a vida continua, e acho que isso não era fácil. Fui me distanciando aos poucos...
           Voltei para casa a tempo de ajudar minha mãe com a comida. Meus pais estavam visivelmente mais felizes com o fato de eu estar conseguindo levar uma vida mais normal. Conversamos animadamente durante a refeição. Tirei uma soneca depois do almoço. Meus pais saíram para visitar um casal de amigos e eu fiquei em casa sozinha.
            Sempre que estou sozinha aquele sorriso grande me vem à mente. Guilherme tinha um sorriso lindo! Sinto saudades de tudo, de nossas conversas, do beijo, do sexo, das nossas risadas ou de simplesmente ficar à toa calada ao lado dele...
            Fui para o jardim, liguei o som e deitei na grama numa área de sombra. Fiquei contemplando o céu... Será que ele pode me ver?
            - Meu amor, porque me deixou tão cedo? Sinto tanto sua falta! Espero que esteja num lugar lindo e em paz…
            Adormeci enquanto conversava com ele, ou com o céu, ou comigo mesma não sei bem… Acordei com meus pais chegando em casa. Já era tarde, pedimos uma pizza e assistimos a TV juntos.
            Segunda-feira pela manhã fui ao clube nadar. Exercitar-me distrai minha mente e gosto de água. Ainda era cedo e o clube estava praticamente vazio. Depois fui para a academia e malhei um pouco. Voltei para casa e ajudei minha mãe a terminar o almoço. Meus pais já estão aposentados e levam uma vida bem pacata. Eles mesmos cuidam dos afazeres domésticos e gostam de receber amigos. Adoram filmes seja no cinema ou em casa e gostam de um bom livro. Admiro o amor e companheirismo deles. Estão casados há 30 anos e ainda parecem dois namorados. É o tipo de amor que todo mundo gostaria de ter!
            À noite fui para mais um plantão. Sou uma pessoa pacífica, mas tem coisas que me tiram do sério… Volta e meia atendo algum paciente simulando estar doente, ou fingindo estar desmaiado e esse é o tipo de situação que me irrita! Pronto Socorro lotado, média de espera para atendimento de duas horas e chega uma paciente trazida pelo Corpo de Bombeiros, encontrada “desmaiada”, caída no chão do banheiro da casa dela. Ao lado dela uma cartela inteira de ansiolítico vazia. O marido refere que eles tiveram uma discussão e a esposa se trancou no banheiro, como já havia passado um tempo e ela não saía de lá mesmo após ele chamar por ela várias vezes, ele arrombou a porta e a encontrou caída ao lado da cartela vazia de medicação. Imediatamente ligou para o socorro. Preocupada com a paciente, a levei para sala de emergência e pedi para a enfermagem monitorizá-la para checarmos os dados vitais e pedi que passassem uma sonda nasogástrica, que é um tubo que colocamos pelo nariz e vai até o estômago, para que pudéssemos fazer uma lavagem gástrica, pois se ela tivesse realmente ingerido todos aqueles comprimidos precisaríamos retirá-los de lá antes que fossem absorvidos pelo organismo, pois isso poderia provocar risco de morte. Assim que a técnica de enfermagem começou a introduzir a sonda a paciente abriu os olhos e mexeu-se. Juro que meu sangue ferveu na hora. Perguntei para ela se podia me ouvir e a mesma respondeu que sim. Questionei o que tinha ocorrido e ela confirmou a história do marido e da ingestão de cerca de 20 comprimidos na tentativa de matar-se. Como o relato dela era de que isso já deveria ter cerca de uma hora, logo percebi que tratava-se de simulação. Ela estava fingindo e provavelmente não tinha tomado um comprimido sequer, deve ter jogado todos no vaso e dado descarga. Afirmo isso porque com uma hora após a ingestão cada comprimido já teria tido uma parcela da medicação absorvida pelo organismo, e com uma dose tão alta a pessoa deveria realmente estar desacordada, mas como ela insistia que era verdadeira sua história, informei que teríamos que lavar o seu estômago e ela concordou, mesmo que um pouco desconfiada. Como eu já esperava, não saiu nada daquele estômago! Depois que o procedimento terminou e eu disse que ela podia me contar a verdade, porque estava claro que não havia ingerido remédio algum, a mesma acabou confirmando que tudo não passava de uma farça para chamar a atenção do esposo… Odeio este tipo de coisa, pois veja quantas pessoas ela mobilizou! Fez com que uma ambulância do corpo de Bombeiros se mantivesse ocupada por alguns minutos, sendo que outras pessoas poderiam realmente estar precisando. Ocupou o meu tempo e o da equipe de enfermagem, quando poderíamos estar atendendo as pessoas que já aguardavam há horas com dor para serem avaliadas e medicadas… Terminado o show promovido pela referida paciente voltei ao atendimento e trabalhei muito a noite toda. Ao término do plantão eu estava exausta!
            Trabalho toda segunda-feira, quarta e sexta à noite e posso dizer que situações como essa do último plantão sempre se repetem...
            Ao chegar em casa tomei banho, bebi um copo de leite com chocolate e fui dormir.
            Acordei às 13:00h ainda com sono e cansada. Almocei e dormi de novo.
            A semana se seguiu como todas as outras...
            Sábado à tarde fui ao supermercado fazer algumas compras com minha mãe. Enquanto minha mãe lia compenetrada algumas caixas de sabão em pó, uma menininha tentando alcançar uma embalagem de biscoitos na prateleira, na pontinha dos pés, me chamou a atenção. Sorri para ela que me sorriu de volta e perguntei:
            - Posso te ajudar a pegar os biscoitos?
            Ela sorriu e balançou a cabeça dizendo que sim. Ela era loirinha, devia ter uns três anos e era linda.
            - Aqui está! Como você se chama?
            - Eu sou a Duda! E você?
         - Eu sou a Clarice! É um prazer conhecê-la! Disse estendendo-lhe a mão a qual ela apertou contente.
            - Você está sozinha? Onde estão seus pais?
            - Meu pai está ali! Respondeu apontando o dedinho. E minha mamãe está no céu! Ela é uma estrelinha brilhante.
            Percebi a tristeza em seu olhar e uma lágrima brotou em meus olhos. Peguei-a no colo e beijei-lhe o rosto.
            - Você é bonita! Parece com a mamãe, só que o cabelos dela eram amarelos iguais ao meu. Disse ela passando a mão em meus cabelos.
            - Duda, meu amor, já está incomodando a moça! O que o papai já lhe disse?
            Virei-me e o pai da garotinha estava ao meu lado. Fiquei um pouco constrangida de estar com ela em meus braços, não queria parecer que sou uma sequestradora de crianças...
            - Desculpe-me por isso! Disse entregando Duda nos braços dele.
            - Fui eu que me aproximei dela para ajudá-la a pegar uma embalagem de biscoitos. Falei com um sorriso amarelo no rosto.
            Ele sorriu. O homem era muito bonito. Deveria ter uns trinta anos era alto e tinha alguns cabelos grisalhos.
            - Não tem que se desculpar. Na verdade eu que peço desculpas, sabe como são as crianças! Um minuto que me distraio e já a perdi de vista. A propósito, eu sou o Henrique, pai da Duda! É um prazer conhecê-la!
            Disse me estendendo a mão.
            - Eu sou a Clarice! A estranha que gosta de ajudar crianças aparentemente perdidas em supermercados. Respondi apertando a mão dele que deu uma gargalhada.

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