Quem já acompanha meu blog há algum tempo sabe do meu amor profundo pelas obras da Clarice Lispector. Mas nunca é demais falar sobre ela e sobre seus textos, então hoje minha postagem é uma homenagem sincera a essa incrível mulher que mudou a Literatura Brasileira e especialmente mudou meu modo de ler Literatura Brasileira e me inspirou a querer escrever e tem me influenciado sempre, a cada texto novo que leio me encanto e fico ainda mais apaixonada!
Clarice Lispector nasceu na Ucrânia na pequena cidade Tchetchelnik, em 10 de dezembro de 1920, em uma família judaica que perdeu toda sua renda durante a Guerra Civil Russa e devido à perseguição aos judeus emigraram do país, chegando ao Brasil em Maceió, quando Clarice tinha cerca de dois meses de vida. Posteriormente mudaram-se para Recife, onde cresceu e viveram até sua mãe falecer. Mais tarde mudaram-se para o Rio de Janeiro, onde a família se estabilizou e viveram até seu pai falecer.
Clarice estudou Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro e já naquela época demostrava interesse pelo meio literário, tendo trabalhado como tradutora e logo iniciou sua carreira como escritora, trabalhando também como jornalista, escrevendo para jornais como contista e ensaísta, trabalhou ainda como editora. Ela transformou-se numa das figuras mais influentes da Literatura Brasileira e do Modernismo, sendo considerada uma das principais influências dos novos escritores brasileiros (e me incluo aqui).
Casou-se com um diplomata brasileiro, com quem teve dois filhos homens, e devido a carreira do marido viveu muitos anos em países no exterior. Teve uma morte prematura em 1977 às vésperas de completar 57 anos de idade, vítima de um câncer de ovário. Deixou dois filhos e uma vasta obra literária composta por romances, novelas, contos e crônicas.
Só quem já leu algo de Clarice poderá entender quando alguém falar sobre Clarice. Ela é diferente de tudo que já li e provavelmente lerei em toda minha vida! Clarice foi uma escritora dedicada a desvendar as profundezas da alma humana (e dos bichos, como ela mesmo teria dito). Como dizem os críticos: "ela escolheu a Literatura como bússola em busca pela essência humana. Sua tentativa de transcender o cotidiano revela-se na iminência de um milagre, uma explosão ou uma singela descoberta. Todos susceptíveis aos acontecimentos do dia a dia. Vidas que se perdem e se encontram em labirintos formados por uma linguagem única, meticulosamente estruturada. E é por esta linguagem que Clarice Lispector constrói uma obra de caráter tão profundo quanto universal."
Clarice é sempre uma surpresa, tão esperada, por quem se permite desvendar seus textos tão profundos e ao mesmo tempo simples e suaves que soam como uma conversa direta com o leitor. Certa vez ela mesmo disse que não gostava de rótulos para seus textos, preferia que fossem chamados de textos mesmo. "Crônica é um relato? É uma conversa? É um resumo de um estado de espírito? Não sei".
Li recentemente "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres", que é um romance, não um romance comum, como qualquer outro, mas um típico romance de Clarice, em que ela nos conta a história de Lóri, cujo nome verdadeiro é Loreley, e Ulisses. Ela nos leva a uma viagem pela descoberta de Lóri de si mesma. A personagem diz "Eu é". O principal responsável pela busca de Lóri, Ulisses, um professor de filosofia que possui muitas fórmulas para explicar o mundo, apaixona-se por ela, mas Lóri precisa primeiro encontrar-se para depois conseguir se entregar a este romance, e ele pacientemente espera. Ela diz: "Não encontro uma resposta quando me pergunto quem sou" e ele responde: "Mas isso não se pergunta. Não se faça de tão forte perguntando a pior pergunta de um ser humano. Eu, que sou mais forte que você, não posso me perguntar quem sou sem ficar perdido." Ulisses diz a ela: "Amor será dar de presente um ao outro a própria solidão? Pois é a coisa mais última que se pode dar de si."
E assim repleto diálogos tão profundos e perturbadores é esse lindo livro que acaba por nos induzir a nossa busca particular de nós mesmos.
Terminada sua leitura iniciei "Clarice na cabeceira", uma reunião de vinte crônicas escolhidas por vinte pessoas que foram próximas à Clarice ou fortemente influenciadas por ela, publicados pela Editora Rocco. Antes de cada crônica, cada pessoa escolhida fala um pouco sobre Clarice, aproximando-nos dela, fazendo-nos conhecer um pouquinho mais da autora e não somente da obra. Confesso que não consegui segurar as lágrimas em vários momentos, principalmente quando alguns contaram como foi quando souberam da morte de Clarice. Nesta obra sua crônicas nos envolvem de tal forma que passamos a viver Clarice, ela que costumava dizer que na vida só sabia ser mãe e escrever e que quando não escrevia estava morta. Clarice ressuscita a cada página que lemos de seus textos. Clarice é eterna é imortal. Na crônica "Se eu fosse eu" ela diz: "Se eu fosse eu parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais."
O que ainda posso dizer? Leiam Clarice Lispector! Mas leiam de alma aberta e leve e permitam-se sentir suas palavras! Deixem que elas entrem em vocês e promovam a transformação que certamente irá acontecer!
Para quem ainda não conhece nada dos textos da autora, recomendo que iniciem por "Clarice na cabeceira", assim, além de conhecerem vinte crônicas, irão ler coisas sobre ela escritas por pessoas com quem conviveu.
Um abraço apertado e tenham uma boa semana!
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