terça-feira, 21 de abril de 2015

Saudades (Sentindo-me um pouco Carlos Drummond de Andrade)



Saudades 

Renata dos Reis Corrêa

Sinto tanta falta daquele sorriso que imaginei, do abraço que não cheguei a sentir e daquela conversa que já sei de cor, mesmo nunca tendo acontecido.
Sinto uma falta imensa do seu cheiro que não conheci, dos beijos que desejei e de um amor pleno que esperei para mim.
Sinto uma falta descomunal de você que ainda não surgiu na minha vida e de tantas coisas que não vivemos e de mim mesma, do que eu não sou, do que não fui, do que eu quis ser e do que um dia serei.
Hoje estou cheia de saudades e me sinto um pouco Drummond.

Escrevendo isso me lembro do poema "Estrambote melancólico" do Carlos Drummond de Andrade:

Tenho saudade de mim mesmo,
saudade sob aparência de remorso,
de tanto que não fui, a sós, a esmo,
e de minha alta ausência em meu redor.
Tenho horror, tenho pena de mim mesmo
e tenho muitos outros sentimentos
violentos. Mas se esquivam no inventário,
e meu amor é triste como é vário,
e sendo vário é um só. Tenho carinho
por toda perda minha na corrente
que de mortos a vivos me carreia
e a mortos restitui o que era deles
mas em mim se guardava. A estrela-d'alva
penetra longamente seu espinho
(e cinco espinhos são) na minha mão.

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