A felicidade alheia incomoda
Renata R. Corrêa
Eram apenas dois garotos, quase duas
crianças. Cidade pequena, mocinho vindo de fora, a melhor amiga apaixonada por
ele e pedindo que ela se aproximasse, fizesse amizade, com o intuito de
ajudá-la... Isso nunca dá certo! Porque em se tratando das coisas do coração
ninguém tem o controle da situação.
Mesmo contra sua vontade, pois a
princípio o achou um pouco antipático, foi lá e se conheceram. Rapidamente se
tornaram melhores amigos e descobriram que tinham muitas afinidades e sonhos em
comum. O que aconteceu? Tudo o que não podia! Acabaram se apaixonando um pelo
outro. E a amiga? Quase morreu! Quase a matou! Mas o que sentiam já era
inevitável, incontrolável. Simples assim: o amor tinha acontecido (porque o
amor é mesmo um acontecimento). E de verdade? Amou-o com a pureza, ternura e
sinceridade de uma criança. Com a paixão e profundidade de uma mulher. Queria
estar sempre ao seu lado, queria guardar seus melhores sorrisos e as conversas
infinitas, os carinhos, os beijos. Eram um casal perfeito: amigos,
companheiros, engraçados. Certa vez ela encheu a cara num final de ano e ele a
levou para casa, depois de, nada romanticamente, ter vomitado por todas as ruas
da cidade. Aliás, naquele dia ele verdadeiramente se apaixonou (vai entender!).
Depois foi sua vez de encher a cara e a dela de levá-lo para casa.
Mas apesar de tudo, eram apenas duas
crianças felizes. E a felicidade alheia incomoda... Um belo dia ele ficou
doente e, sem saber bem porque, ela não foi visitá-lo. Talvez por vergonha de
assumir diante da sua família que estavam namorando, coisas de adolescente do
interior... Um garoto, que um dia se
encantou por ela, aproveitou-se da situação para semear a desconfiança e a
discórdia. Disse que ele já não se importava com ela, que havia dito a ele que
aquele “caso” não significava nada e que até já estaria de olho em outra
menina. Ele era seu amigo (pelo menos ela pensava ser), acreditou. Seu mundo
desabou. Chorou lágrimas que encheriam um rio e o odiou, mesmo sem odiar.
Sentiu seu orgulho ferido. Teve vontade de ir até a casa dele e à beira do seu
leito de convalescença tirar satisfações. Queria ouvir aquilo da sua boca. Não
foi...
Os dias se passaram, ele melhorou,
encontraram-se na rua como dois estranhos. Seu coração estava apertadinho
dentro do peito e a tristeza fazia dela apenas sombra do que era. Mas o orgulho
ferido de uma mulher (mesmo que ainda menina) a faz passar batom vermelho,
calçar salto alto e ensaiar seu sorriso mais bonito para exibir em público.
Assim o fez. E assim o perdeu de vez.
As semanas passaram logo, era
Carnaval. Depois de beber um pouco (e nessa época bem pouco mesmo já a deixava
“de fogo”) o avistou com a tal menina, de quem o amigo havia falado. Não
aguentou. Seu sangue ferveu na cabeça ligeiramente alcoolizada e se aproximou
dos dois: “Preciso falar com você”, disse olhando nos olhos dele com toda a
tristeza e mágoa de um coração partido. Ele a olhou, não disse que não, ao
contrário, concordou, deixou a menina e a acompanhou.
Conversaram por horas. Choraram. Ele
contou que o mesmo amigo havia o visitado quando esteve doente e disse-lhe que
ela andava saindo sozinha, que estava feliz, que havia dito não gostar mais
dele e já estar interessada em outro. Ele era seu amigo (ou ao menos pensava
assim), acreditou. Sentiu seu orgulho ferido, raiva, mesmo ainda apaixonado
jurou nunca mais a procurar. E arrumar outra para “esfregar na cara dela”. E
assim o fez. E assim a perdeu de vez. E assim os dois se perderam um do outro.
Mas já havia passado tanto tempo! A
mágoa de ambos era tão grande, que mesmo depois de terem descoberto que tudo
não passou de uma armação, não puderam se perdoar nem um ao outro, nem a si
próprios. O namoro terminou triste assim: entre lágrimas de amor e afagos no
cabelo, carícias no rosto e um abraço apertado que parecia não ter fim. Não
pediram perdão, apenas se lamentaram.
O sentimento que ficou demorou mais
do que o tempo para passar. Mas as lembranças vão ficando desbotadas até
desaparecerem. E aquele amor que de tão grande doía no peito, angustiava,
sufocava, de tanto não ser correspondido um dia acabou. Assim acabou para eles.
Tenham uma boa semana! Conheçam meu novo romance no Wattpad:
"As coisas não são bem assim - sobre a vida e o amor"
http://www.wattpad.com/story/38741842-as-coisas-n%C3%A3o-s%C3%A3o-bem-assim-sobre-a-vida-e-o-amor
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