Hoje postarei mais um conto, que também foi postado no site Página Cultural! Um beijo e boa semana!
Um sopro de esperança
Renata dos Reis Corrêa
Vivia a vida, na verdade levava a
vida, mas não era feliz. Já não se lembrava de quando tinha sido a última vez
que havia dado um sorriso, nem que tivesse tido vontade de se enfeitar.
João, seu marido, tinha cerca de
quarenta anos, era trabalhador, mas desprovido de gentilezas, polidez, não
sabia pedir por favor, nem muito menos obrigado.
Rita e João casaram-se quando ela
ainda era uma menina. Tinha dezessete anos, não conhecia nada da vida, nem do
amor. Mas tinha sonhos. No início o jeito bruto de João a assustou, sentia
falta de delicadezas, mas acabou se acostumando.
Tiveram o primeiro filho quando ela
tinha dezenove anos e o segundo dois anos depois. Os filhos e os afazeres
domésticos ocupavam-lhe o tempo. E foi se esquecendo de si mesma...
Provavelmente se perguntada do que mais gosta (de fazer, de ouvir, de ler) ela
não saberá responder.
Certo dia Rita foi à feira. Na
volta, com sacolas nas mãos, ao entrar num ônibus um rapaz lhe estendeu a mão
oferecendo ajuda. Rita ficou desconcertada e agradeceu. Dois assentos estavam
desocupados e sentaram-se um ao lado do outro. “Está mesmo um belo dia, não
está?” o
rapaz perguntou e Rita que já desacostumara a ouvir amenidades chegou a
questionar se era com ela mesmo que ele estava falando. Sim, não havia dúvidas,
pois aqueles olhos verdes estavam olhando diretamente dentro dos seus. Ela fez
que sim com a cabeça. Então ele lhe sorriu um sorriso doce e perfeito, de
dentes alinhados e brancos.
Rita sentiu uma culpa invadir-lhe a
alma por ter achado o rapaz bonito. Seu semblante mudou e ele percebendo disse:
“Desculpe-me se a incomodei moça, mas o dia está realmente bonito e olhar para
a janela e ver seu rosto delicado antes do que posso ver lá fora, fez-me achar
o cenário ainda mais belo. Você é uma mulher muito bonita.” Um esboço de
sorriso surgiu na face dela.
Rita era uma mulher bonita, apesar
de desarrumada e sem vaidades. Nenhuma maquiagem no rosto, cabelo despenteado e
sem corte.
A parada dela chegou. Ao pedir
licença para que pudesse passar, o jovem rapaz ainda lhe sorriu novamente e
desejou que tivesse um bom dia.
Rita chegou em casa um tanto quanto
esbaforida e apavorada. De olhos arregalados deixou as sacolas sobre a mesa da
cozinha e correu para o banheiro. Olhou-se no espelho. Ajeitou os fios
despenteados com os dedos, alisou a própria face com as mãos e de repente seus
olhos brilharam. E ela sorriu para sua imagem refletida. Uma sensação de
alegria encheu-lhe a alma e um sopro de esperança percorreu seu corpo.
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