segunda-feira, 4 de maio de 2015

A felicidade alheia incomoda

A felicidade alheia incomoda

 Renata R. Corrêa

           
            Eram apenas dois garotos, quase duas crianças. Cidade pequena, mocinho vindo de fora, a melhor amiga apaixonada por ele e pedindo que ela se aproximasse, fizesse amizade, com o intuito de ajudá-la... Isso nunca dá certo! Porque em se tratando das coisas do coração ninguém tem o controle da situação.
            Mesmo contra sua vontade, pois a princípio o achou um pouco antipático, foi lá e se conheceram. Rapidamente se tornaram melhores amigos e descobriram que tinham muitas afinidades e sonhos em comum. O que aconteceu? Tudo o que não podia! Acabaram se apaixonando um pelo outro. E a amiga? Quase morreu! Quase a matou! Mas o que sentiam já era inevitável, incontrolável. Simples assim: o amor tinha acontecido (porque o amor é mesmo um acontecimento). E de verdade? Amou-o com a pureza, ternura e sinceridade de uma criança. Com a paixão e profundidade de uma mulher. Queria estar sempre ao seu lado, queria guardar seus melhores sorrisos e as conversas infinitas, os carinhos, os beijos. Eram um casal perfeito: amigos, companheiros, engraçados. Certa vez ela encheu a cara num final de ano e ele a levou para casa, depois de, nada romanticamente, ter vomitado por todas as ruas da cidade. Aliás, naquele dia ele verdadeiramente se apaixonou (vai entender!). Depois foi sua vez de encher a cara e a dela de levá-lo para casa.
            Mas apesar de tudo, eram apenas duas crianças felizes. E a felicidade alheia incomoda... Um belo dia ele ficou doente e, sem saber bem porque, ela não foi visitá-lo. Talvez por vergonha de assumir diante da sua família que estavam namorando, coisas de adolescente do interior...  Um garoto, que um dia se encantou por ela, aproveitou-se da situação para semear a desconfiança e a discórdia. Disse que ele já não se importava com ela, que havia dito a ele que aquele “caso” não significava nada e que até já estaria de olho em outra menina. Ele era seu amigo (pelo menos ela pensava ser), acreditou. Seu mundo desabou. Chorou lágrimas que encheriam um rio e o odiou, mesmo sem odiar. Sentiu seu orgulho ferido. Teve vontade de ir até a casa dele e à beira do seu leito de convalescença tirar satisfações. Queria ouvir aquilo da sua boca. Não foi...
            Os dias se passaram, ele melhorou, encontraram-se na rua como dois estranhos. Seu coração estava apertadinho dentro do peito e a tristeza fazia dela apenas sombra do que era. Mas o orgulho ferido de uma mulher (mesmo que ainda menina) a faz passar batom vermelho, calçar salto alto e ensaiar seu sorriso mais bonito para exibir em público. Assim o fez. E assim o perdeu de vez.
            As semanas passaram logo, era Carnaval. Depois de beber um pouco (e nessa época bem pouco mesmo já a deixava “de fogo”) o avistou com a tal menina, de quem o amigo havia falado. Não aguentou. Seu sangue ferveu na cabeça ligeiramente alcoolizada e se aproximou dos dois: “Preciso falar com você”, disse olhando nos olhos dele com toda a tristeza e mágoa de um coração partido. Ele a olhou, não disse que não, ao contrário, concordou, deixou a menina e a acompanhou.
            Conversaram por horas. Choraram. Ele contou que o mesmo amigo havia o visitado quando esteve doente e disse-lhe que ela andava saindo sozinha, que estava feliz, que havia dito não gostar mais dele e já estar interessada em outro. Ele era seu amigo (ou ao menos pensava assim), acreditou. Sentiu seu orgulho ferido, raiva, mesmo ainda apaixonado jurou nunca mais a procurar. E arrumar outra para “esfregar na cara dela”. E assim o fez. E assim a perdeu de vez. E assim os dois se perderam um do outro.
            Mas já havia passado tanto tempo! A mágoa de ambos era tão grande, que mesmo depois de terem descoberto que tudo não passou de uma armação, não puderam se perdoar nem um ao outro, nem a si próprios. O namoro terminou triste assim: entre lágrimas de amor e afagos no cabelo, carícias no rosto e um abraço apertado que parecia não ter fim. Não pediram perdão, apenas se lamentaram.

            O sentimento que ficou demorou mais do que o tempo para passar. Mas as lembranças vão ficando desbotadas até desaparecerem. E aquele amor que de tão grande doía no peito, angustiava, sufocava, de tanto não ser correspondido um dia acabou. Assim acabou para eles.

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